Associação de Amigos da Praça do Anjo (AAPA), introdução:

"Portugal, 2006. Todo o país se encontra diminuído sob o peso da crise financeira e económica que devasta a Europa do sul. O Porto, segunda cidade do país e histórico bastião industrial e comercial, sofre de maneira particularmente cruel a destruição da pequena e média economia do país.

O seu centro histórico, onde se mistura a traça medieval, o barroco eclesiástico e as construções da burguesia liberal do século XIX, classificado Património Cultural da Humanidade em 1996, está então em grande parte desertificado. À debandada para as periferias, verificada a partir dos anos 50, junta-se uma gestão do património habitacional público e privado que deixa os edifícios cair em ruína. A discussão pública sobre o planeamento urbano é quase nula, e a crise económica em nada ajuda.

A Praça do Anjo - oficialmente Praça de Lisboa - ocupa um espaço central junto à Torre dos Clérigos, um dos símbolos barrocos da cidade. Este lugar, em permanente transformação desde a época medieval, é uma excelente amostra onde são visíveis todas as grandes tensões, crises e logros do Porto e de Portugal.

A sua fundação mítica é atribuída ao primeiro rei de Portugal, no século XII. Aqui foi construída uma capela, a quem se deve o nome da futura praça. Naquela época, no Porto, o poder da igreja católica superava o do rei. Esta luta de poderes manteve-se ao longo dos séculos até que, em 1833, o rei D. Pedro IV, rei liberal e vencedor da guerra civil contra os absolutistas, atribuiu à Câmara Municipal (CMP) o terreno pertencente a um extinto Mosteiro para naquela zona se construir um mercado público.

O mercado acabaria por ser demolido em 1948, e o lugar ocupado por um parque de estacionamento selvagem. No final da década de 70, a CMP decidiu a construção de um moderno centro comercial, que se concretizou no início dos anos 80: o Clérigos Shopping. O espaço caiu numa lenta decadência até que, em 2006, a última loja resistente fechou as suas portas.
A escultura de um anjo feminino, conhecida por Anja, que mantinha a ligação histórica da praça à figura do anjo, bronze da autoria do escultor José Rodrigues (1936-2016) foi então furtada.

Em 2007, a Associação de Amigos da Praça do Anjo (AAPA) é fundada por Carla Cruz e Ângelo Ferreira de Sousa.
Sob a fachada dessa fictícia associação de cidadãos - indignados com o furto de uma escultura em espaço público - o duo de artistas promove, desde então, uma discussão em torno da crescente privatização do espaço público.


Dossiê completo do projeto

(PDF 13mb)



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